Projeto Pais

Esse projeto nasce para empoderar famílias e não somente mulheres.
Frequentando rodas de gestantes semanalmente, percebo que quase 100% dos homens/pais não têm a menor ideia da importância de sua presença e participação durante a gestação, parto e pós-parto. Porém, ao contrário do que ouço nestes encontros, toda vez que estou em um parto deparo-me com cenas espetaculares de homens descobrindo ali ao vivo que não são meros coadjuvantes.

Ali, eles podem ser e são o melhor que tem dentro deles. Eles oferecem presença! E ai deles se não estiverem ali!! Eles choram, cuidam, apaixonam-se, admiram, massageiam, abraçam, beijam, respeitam, agilizam banheiras com água quente, comida, água, dão apoio, incentivam,  são cúmplices e parceiros no mais profundo grau de entrega e intimidade sem esperar absolutamente nada em troca. Embarcam nesta viagem inebriados numa energia contagiante de mulheres auxiliando mulheres. É uma fortaleza que se sente, não se explica!

Este projeto propõe ouvir homens que já vivenciaram esta jornada e encorajar mais e mais e muito mais homens mundo adentro.

São milhões de filhos brasileiros não reconhecidos pelos pais, são milhões de mulheres brasileiras com a responsabilidade de criarem sozinhas os filhos feitos por homens e mulheres. Envolvê-los nas delícias e responsabilidades além sexo é fundamental para todos.

Gestação, parto e toda a vida pela frente é coisa de ser humano e não apenas de mulher!

Relato de Bruno Petrocco


O que você pensava/sentia em relação à gestação, parto e pós-parto antes de vivenciar a experiência do parto?

Fui criado em um sistema completamente patriarcal, sem julgamentos, angústias e  nem ressentimento mas olhando a maneira como fui educado confesso que fui engrenar nessa questão de ser pai e vivenciar de fato a gravidez no 2º para o 3º mês de gestação.

A Tati minha esposa teve papel fundamental em conseguir aos poucos desconstruir a imagem que tinha de que o pai é apenas aquele que trabalha o dia inteiro e sustenta a casa, de maneira monetária inclusive.

Essa era a imagem que tinha. Meu pai foi assim. Mas ele não teve escolha.

Ser pai do Lorenzo me ajudou até a compreender o meu pai!

Como un veró imigrante, ele não teve a oportunidade de escolher em viver a vida ou sobreviver a ela. Passou fome.

Até em respeito a ele, como uma forma de gratidão às renúncias que ele fez ao longo de sua vida junto com minha mãe e principalmente ao fato de eu ter achado uma alma tão boa para conviver ao lado, resolvi curtir essa loucura toda.

Me entreguei junto com a Tati à gestação. Agarrei com a minha alma todas as chances que tive em ir a obstetra, grupos de parto, ultrassom.

Assim como hoje não projetamos como será daqui 5 anos, na época da gestação vivenciamos a gestação. E a vivenciamos a 3. Tinha comigo que o Lorenzo era fundamental naquele processo. O sentia na barriga e no coração. A minha expectativa era curtir o máximo possível esses momentos, pois como tudo na vida, isso iria passar.

Qual o papel do pai na hora do trabalho de parto? O que isto significou pra você?

Primeiro estudar. E estudar de verdade. Como escolhemos ter parto domiciliar descobri que remaríamos contra a maré. Notei muita gente que nos questionava a naturalmente defender e difundir essa ideia.

Agora o trabalho de parto o bicho pega! Achei que estivesse preparado, tecnicamente tínhamos conhecimento. Mas foi tudo diferente do que esperávamos.

E descobri o quanto a mulher é forte, mas muito forte. Basicamente o meu papel foi cuidar que a água estivesse ao alcance, a banana amassada com mel no meio da madrugada chegasse a tempo da próxima contração… agua de coco, açaí, suco! Tudo ali.

E dá-lhe chuveirada! Vai pro chuveiro, volta, vai pro chuveiro de novo.

Intermediei as informações da minha mulher FORTE com uma outra mulher FORTE e junto com ela ainda viria uma penca de mulherada, mais FORTES ainda.

Com a chegada da cavalaria sai do “operacional” e sem perceber fui colocado no melhor assento, ali, na hora, pra talvez vivenciar a viagem mais inesquecível da minha vida.

A sinergia era total. Aquela mulherada toda em volta da minha MULHER, uma ajudando a outra. Sem tecnologia, sem glamour, sem ego. Todas em prol de uma mulher e de uma nova vida. A energia era uma coisa tribal mesmo.

Quando consegui notar que o Lorenzo era tão protagonista quanto a Tati, em pleno trabalho expulsivo, sentado de frente para aquele acontecimento e ao meu redor aquela mulherada toda, cada uma com seu papel definido, onde a comunicação era na base do olhar e respeito, aprendi a orar.

Orei em agradecimento aquelas vidas e pela oportunidade de vivenciar tudo aquilo. Agradeci por notar como as mulheres são fortes, como a experiência completa a juventude, como a mãe nasce, do que ela é capaz por um filho, e como somos capazes de recomeçar de novo e sempre seremos, a cada parto uma nova chance. Desde sempre somos mais sentimentos que razão e se isso prevalecer tudo vai melhorar.

Tenho certeza que o Lorenzo percebeu o esforço que essa cambada toda teve para lhe desejar boas vindas, simplesmente fizemos de tudo para respeita-lo. Ele sabe que todo esforço, inclusive o dele valeu a pena.

Participar tão ativamente do trabalho de parto faz diferença no vínculo estabelecido e/ou em construção com seu filho? O que mudou em relação à sua companheira depois do trabalho de parto?

Essa pergunta é complexa pois não sei o que sente um pai que sai correndo de onde estiver para ir acompanhar a cesárea de seu filho.

Com relação ao Lorenzo, meu vinculo se estabeleceu com ele no momento que passei a vivenciar a gravidez de fato. Nesse exato momento meu coração esta apertado e os olhos marejados pois me deu vontade de estar com ele.

Com relação a Tati, mudou muita coisa. O carinho, respeito, paixão e amor aumentaram exponencialmente.

Sempre me colocava como ponto mais importante no relacionamento, sem perceber, como se os meus problemas fossem maiores, meus dilemas fossem mais complexos. Não compartilhava muito minhas conquistas e achava que tinha que lidar sozinho com meus fracassos. Estamos mais juntos. Lado a lado. Aprendi a reverenciá-la, de verdade.

Acho que ainda estamos sob o efeito da oxitocina, pois ainda ontem a noite, depois que o Lorenzo dormiu, fomos ver TV e simplesmente a achei bonita, de PIJAMA. Quando falei isso ela caiu na gargalhada, pois era um PIJAMA meio surrado, mas já no colocamos em baixo das cobertas e curtimos o momento. JUNTOS.

Relato de Darlan


O que você pensava/sentia em relação à gestação, parto e pós-parto antes de vivenciar a experiência do parto?

Aqui em casa já conversávamos sobre parto humanizado antes mesmo do início da gestação, basicamente a Natty saía na frente estudando e eu ia correndo atrás ouvindo o que ela tinha a dizer (e seguindo todos os blogs e páginas que ela recomendava). Então para mim era bem claro a importância do protagonismo dela em todo o processo, assim como era claro o quanto ela era capaz de se bancar. Como gestar e parir não estavam exatamente no meu domínio, eu tinha que ser responsável pelos os detalhes em torno disso. Isso era mais que evitar aborrecimentos e preocupações desnecessárias, era pôr em prática tudo o que eu aprendi sobre ela por todos esses anos. Era saber se era momento de música ou de silêncio. Saber quando e como estancar as lágrimas. Saber se fazer presente, sem chamar a atenção.

Qual o papel do pai na hora do trabalho de parto? O que isto significou pra você?

  A minha maior preocupação era cuidar da Natty enquanto ela cuidava da Cora e, sem saber, de mim. Quando eu já estava exausto, eu via a Natty se mantendo firme a cada contração, o que me ajudou a ignorar a fadiga para estar ao seu lado, ajudando a aliviar a sua dor, vocalizando em coro, abraçando, beijando e às vezes apenas a contemplando com um pouco de orgulho (por que não?). Esse cuidado mútuo me deu a sensação que o trabalho de parto foi nosso, compartilhado e dividido como era possível.

Participar tão ativamente do trabalho de parto faz diferença no vínculo estabelecido e/ou em construção com seu filho?

  “Para o pai, a ficha só cai quando o filho nasce”. Eu acreditava que seria assim que aconteceria comigo… até que veio o trabalho de parto. A ficha caiu ainda nos pródromos, quando eu já comecei a preparar a casa, liguei para equipe e eu já me preparei para não dormir por um bom tempo. Várias outras fichas caíram a cada contração que moldava a posição da Cora e a cada ausculta que nos dava segurança que ela estava bem e fazendo a sua parte. A Cora nasceu nas minhas mãos e já tínhamos compartilhado o momento mais incrível da nossa família. A Cora nasceu e eu já estava pronto.

O que mudou em relação à sua companheira depois do trabalho de parto?

É verdade quando dizem que o trabalho de parto é uma parte pequena na história de uma família, mas foi a primeira experiência de nós três nos ajudando a superar nossos limites, cada um no seu papel já como pai, mãe e filha.

O amor que já era grande, ficou ainda maior e com ele a admiração, o carinho, a confiança e o cuidado com nós mesmos. Esse pequeno prelúdio é a pedra angular para nos entendermos não somente como um casal, mas também como pais da Cora.

Relato de Thiago


O que você pensava/sentia em relação à gestação, parto e pós-parto antes de vivenciar a experiência do parto?

Gestação, parto e pós-parto me pareciam acontecimentos nos quais eu era um espectador, no máximo teria um papel de suporte emocional para minha companheira. Imaginava que depois do parto começaria minha função principal, mas ainda com uma ideia de “arrimo” ou suporte, e não de agente ativo.

Qual o papel do pai na hora do trabalho de parto? O que isto significou pra você?

Além do suporte físico e da organização geral (segura, faz massagem, pega isso, pega aquilo, etc), e do suporte emocional à minha esposa (está tudo bem , vamos lá, você vai conseguir), eu achei que pari junto. Não sei explicar muito bem, mas é como se estivessemos (nós 3) conectados e fazendo aquilo juntos.

Eu mergulhei naquele momento e ele me transformou pra sempre. Acho que seria um pai e marido diferente do que sou hoje se não tivesse passado pelo parto, do jeito que ele foi.

Participar tão ativamente do trabalho de parto faz diferença no vínculo estabelecido e/ou em construção com seu filho?

Acredito que, no meu caso, participar do parto tenha definido de certa forma minha paternidade. Acho que criei um vínculo imediato e fortalecido com meu filho, tanto emocional e afetivo, quanto prático, por assim dizer, por me envolver nas atividades desde antes dele nascer.

O que mudou em relação à sua companheira depois do trabalho de parto?

Acho que muitas coisas, mas é difícil identificá-las. Acho que o momento do parto nos definiu como “família”, que é um olhar diferente sobre nós, que antes éramos um “casal”. Imagino que isso deve acontecer com todo mundo, de uma maneira ou de outra, que tem filhos e vive juntos, mas me parece que ter esse momento definido, do nascimento, como um grande e importante evento familiar, no qual nós 3 fomos agentes ativos, foi uma passagem definidora, acolhedora, feliz, como se Deus sussurra-se nos nossos ouvidos: pronto, agora vocês são uma família.

Relato de Vinícius


O que você pensava/sentia em relação à gestação, parto e pós-parto antes de vivenciar a experiência do parto?

Antes da gravidez eu era alheio a tudo o que envolve essas três fases: gestação, parto e pós-parto. Sempre pensava no bebê apenas, já nascido. Nunca havia imaginado que todo o processo seria algo tão profundo, importante e que me traria tanto autoconhecimento. Via a gestação como um período bonito, mas não imaginava a emoção de cada etapa vivida. Via o parto como um grande problema que se limitava a uma dor intensa, e sentia medo por minha esposa. Jamais imaginava a grandeza do momento, quão fantástico e belo um parto pode ser, e como tudo que viveria aquele dia viria a mudar minha vida e a relação com minha família. Pós-parto para mim era apenas alguns dias de repouso, não fazia ideia da dedicação necessária nessa etapa que talvez seja uma das mais difíceis e ao mesmo tempo importantes.

Claro que durante a gestação me preparei e aprendi muito sobre tudo. Essa base me ajudou bastante, mas não há nada como vivenciar essa experiência transformadora na pele.

Qual o papel do pai na hora do trabalho de parto? O que isto significou pra você?

O papel do pai é ser tudo para mãe, tudo o que for possível. Parece que o pai não tem muito como ajudar, certo? Essa ao menos era a sensação que tinha antes daquele dia. Mas devemos ser parceiros, ser o apoio físico e emocional, estar sempre lá para segurá-la ou sustentá-la, e também para acalmar a alma e dar segurança. Cuidar da “infra”, alimentar, preparar o banho, fazer um suco, blindar o ambiente e manter a paz… Cada pequena coisa é importante para que a mulher se desligue do mundo e não precise se preocupar com exatamente nada… Apenas esvaziar a mente e deixar que seu lado animal e instintivo floresça.

Participar ativamente nos faz compartilhar as experiências e sentimentos, nos faz ser parte daquilo.

Hoje sinto que a presença e o apoio do pai são fundamentais para o bom andamento do trabalho de parto, afinal somos quem ela escolheu para vida, para compartilhar tudo, e esse é o momento mais especial que viverão juntos.

Participar tão ativamente do trabalho de parto faz diferença no vínculo estabelecido e/ou em construção com seu filho?

Com certeza faz! Não que alguém que não possa viver essa experiência terá um vínculo afetivo com seu filho mais fraco, mas vivenciar aquela conquista, uma conquista não só da mãe mas também do bebê, certamente deixa marcas e te conecta à criança de uma maneira única. O esforço vencido, a euforia ao recebê-lo imediatamente em nossos braços, o cheiro, o tato, as lágrimas… Tudo isso é revivido a cada troca de olhar com seu filho, para o resto da vida.

O que mudou em relação à sua companheira depois do trabalho de parto?

Passei a vê-la de outra forma. Minha admiração já era enorme, pela mulher boa, inteligente e determinada que sempre foi. Sempre lutou e conquistou tudo que quis, com o parto não haveria de ser diferente. Mas admito que não fazia ideia que essa admiração e principalmente o respeito poderiam aumentar ainda mais, e muito mais! Ela foi incrível, enfrentou tudo aquilo com uma força inimaginável para trazer nosso filho da melhor forma possível.

Lembro-me de ter ouvido nos grupos de parto “você vai ver sua mulher de uma forma que nunca viu antes”, e vi! Vi uma mulher capaz de tudo, empoderada e guerreira! Vi seu lado mais primitivo, vi que pelo nosso filho ela jamais medirá esforços. Sou infinitamente grato por tudo que fez e continua fazendo. Tudo isso me impressionou, nos uniu mais, e me apaixonou ainda mais por ela!